Moderno, Demasiado Moderno: a perspectiva como teoria política da ação, por Raul Francisco Magalhães

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Raul Francisco Magalhães é professor de Política da Universidade Federal de Juiz de Fora.

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Resumo

O texto discute algumas características modernas do pensamento politico de Maquiavel considerando, como ponto de partida, o próprio uso que esse autor tem da palavra moderno. O trabalho  sugere então que a noção de perspectiva desenvolvida pela arte renascentista é mais do que uma analogia retórica em Maquiavel tratando-se da própria forma como as relações entre a história e a realidade do seu tempo poderiam ser com­preendidas. O argumento derivado dessa reflexão é de que o ‘povo’, pensado como um agente coletivo portador de virtù, é um elemento propriamente moderno da teoria po­litica de maquiaveliana e deve ser necessariamente compor com o príncipe o projeto de criação da moderna Itália.

Palavras-Chave

Maquiavel, Modernidade, Perspectiva, Teoria da ação

Abstract

This article discusses some modern features in the Machiavelli’s political thought in considering, as a starting point, the very use of the word modern by himself. The paper then suggests that the notion of perspective developed by renaissance art is more than a rhetorical analogy in Machiavelli. It is his own way to conceive the relationship between history and the reality. The resulting argument from this reflection is that the concept of ‘people’, designed as a collective agent capable of virtù, is a modern element of Machiavellian political theory and must necessarily be matched with the prince in the project of creation of modern Italy.

Key Words

Machiavelli, Modernity, Perspective, Action theory

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Maquiavel  escreveu que seu bem mais precioso era, por assim dizer, uma teoria da ação. Tratava-se da ‘cognição/conhecimento/entendimento’ (cognizione) das ações po­líticas dos grandes homens,  ‘impariata da me con una lunga esperienza delle cose moderne e uma continua lezione  delle antiche[i]’, literalmente, [cognição] ‘apren­dida por mim com a longa experiência das coisas  modernas e a contínua lição das coi­sas antigas’. Esse trecho, muito citado como quase todos do Príncipe, é algo intrigante por mobilizar, no original e no plural, a palavra moderne para significar algo específico do próprio tempo em que o autor vivia e, simultaneamente, estabelecer um elemento polar às lições dos antigos, disponíveis nos livros de história, como devia saber um hu­manista cívico. Pensar Maquiavel como moderno é um registro pouquíssimo contro­verso, aliás, a vulgata que dele é feita diz precisamente que se trata do iniciador do pen­samento político moderno, ao localizar a política em um lócus autônomo e tratando-a com um objeto de pleno direito, desprendida da tutela da ética e da teologia e mesmo da filosofia. Nessa leitura ele é moderno ao olhar para a ‘realidade efetiva’ das coisas, apreendendo suas dimensões quase sempre antitéticas com preceitos normativos ligados à retórica do bom governo. Sem cursar novamente essa senda, nem desafiar-lhe a bem conhecida propriedade explicativa, cabe lembrar que,  no entanto, há outras consequên­cias teóricas importantes derivadas do mero fato do escritor florentino em 1513 usar a palavra moderno, em um sentido aparentemente tão próximo do nosso uso conceitual. Basta reler a frase no contexto  da saudação a Lourenço de Medici  para que a cognição de  Maquiavel seja ainda mais moderna, pois além de julgar as narrativas da história com os fatos do presente, ainda lança mão da ideia de perspectiva por meio de uma analogia. Essa técnica, que nos causa a ilusão de tridimensionalidade no desenho, tão gloriosamente conquistada por contemporâneos como Leonardo, é um dos guias do Príncipe, afinal, conhecer é como desenhar e obriga o artista a colocar-se a uma dis­tancia reflexiva do que observa, portanto, um membro do povo poderia compreender as ações de um príncipe melhor que outro príncipe[ii]. “Não é preciso ser César para com­preender César” disse um moderno do inicio do século XX[iii], eis então a conquista da perspectiva na teoria da ação: o analista vê o ator e empresta sentido ao seu movimento. Assim procedeu Maquiavel em suas análises históricas, iluminando as boas ou más ra­zões que inspiraram os atores históricos, com os quais ele ilustrou seus preceitos analíti­cos e normativos.

Se há um sentido ‘antigo’ da palavra moderno, cujas datações remontam ao latim bi­zantino do v século da era cristã[iv] (originalmente com o mesmo sentido de algo rela­tivo às coisas que se passam no tempo presente; um novo ’modus’), ele certamente se perdeu, pois o termo parece desde sempre de atualidade indomável, principalmente no texto de Maquiavel. É sustentável por uma hermenêutica bem informada do secretário florentino desenhá-lo como um homem do seu tempo e pouco disposto a seguir dogmas da tradição. Sua obra, é verdade, com certeza mobiliza tópicos de diversas naturezas, incluindo os da tradição, como reconhecer os poderes da sorte e do acaso figurando-os  por meio da imagem da Fortuna. Essa entidade, pois Fortuna é uma deusa pagã, tinha um arrasador impacto nos cenários que Maquiavel presenciava e reclamava a necessi­dade de uma compreensão realista da política que, por sua vez, indicava a importância de uma qualidade humana a virtù, a fim de domar os irracionalismos da deusa. Os atores têm sempre de agir alterando estratégias e lendo a realidade como está disposta pela roda das circunstâncias, assim a variação dos homens, ou a conquista de um self ‘flexível’[v], é um passo decisivo em fazer modernos homens e mulheres.

Outro cenário moderno o fez contemplar o poderio de Estados Nacionais se consti­tuindo como  novas formas geopolíticas e fez com que Maquiavel argumentasse decidi­damente em favor de uma Itália[vi], ainda inexistente, para fazer frente à insolência francesa, espanhola ou dos principados alemães. Isso significava, nada menos, que de­sautorizar qualquer proposta sobre a viabilidade do argumento pela autonomia das cida­des-estado italianas. Tal discurso fora tão operativo até meio século antes e nas primei­ras décadas de 1500  simplesmente se desmanchava no ar diante das máquinas militares nacionais já formadas. A perspectiva do Maquiavel diplomata, que em missões trans­montanas teve a oportunidade de habitar a corte do rei da França e do vacilante Impera­dor germânico, sinalizava irreversivelmente para a fragilidade da República que lhe pagava o salário, e para o arcabouço do humanismo da cidade, que defendia a ordem coletiva no governo, basicamente traduzida num conselho aristocrático dos mais pode­rosos da cidade e de alguns intelectuais pagos pelo establishment (como ele pró­prio)[vii]. A teoria republicana elaborada desde antes do sec. XIV desautorizava a he­gemonia da forma monárquica, estabelecendo que as cidades italianas eram livres de fato, no sentido de fazerem as próprias leis[viii]. Já havia então um curso de “moderni­zação” da filosofia política do quatrocento (apenas 100 anos antes do Príncipe) repre­sentado justamente pela retomada da dimensão humana do pensamento republicano e pelo uso do modelo circular de historia do mundo pagão, pré-cristão, vis-à-vis  à linha evolutiva historia medieval[ix].

Há aqui um espanto: no caso de Maquiavel a modernidade não significa a superação apenas de uma longa tradição, no caso medieval, em prol de uma nova formulação do mundo, ela faz mais  que destruir o antigo, ela é fáustica, eternamente jovem ao destruir continuamente o que ainda pouco era  novo[x]. A modernidade segue destruindo-se, erigindo em tradição superável o que há pouco afirmou como novo. Se o humanismo cívico florentino exortava a autonomia  de Florença frente a um império que se chamava de “sacro”, essa autonomia para Maquiavel e suas circunstâncias eram um recente ana­cronismo. Era uma autonomia retórica, incapaz de fazer frente ao poderio dos soldados dos reis que nada tinham de sacros, mas que haviam completado os primeiros passos do que Weber descreve como os traços inerentes aos estados modernos: o Príncipe sub­mete, com a ajuda de intelectuais humanistas, as antigas ordens aristocráticas e cria, por meio de um exército centralizado e profissionalizado, um projeto de monopólio cada vez mais consistente da violência e de burocratização do aparato estatal[xi], a começar da tributação. O quanto disso Weber teorizou pensando em Maquiavel é uma pergunta, mas que não precisa desviar o ponto: o texto do Príncipe é um livro moderno até pelo fato de lembrar que no momento da sua escrita uma teoria recentemente válida, que prescrevia a autonomia e a liberdade das cidades-estado italianas, perdia suas virtudes explicativas em função de fatos novos. Se a modernidade havia suspendido a tradição medieval agora ela começava sua autofagia tão característica: demolir precocemente a arquitetura que impunha ao mundo. A cidade republicana dos humanistas cívicos havia de ser a primeira vítima da emergência dos ‘leviatãs’ que iriam protagonizar mais e melhores guerras no seu específico ´estado de natureza´[xii]. A liberdade das cidades italianas ainda viveria nos discursos, mas não muito nos fatos, urgia que o império (soberania) residisse em um arranjo que a Itália não conheceria antes do sé­culo XIX, numa guerra civil cujo sintomático nome viria a ser risorgimento, uma alusão ao retorno de um grande tempo. Estava-se fundando, tardiamente, a Itália como Estado Nacional sob uma monarquia, uma conclamação feita no último capítulo do Príncipe.  .

Querer a Itália e não simplesmente Florença  era a lição do tempo, um argumento não  facilmente formulável na linguagem republicana do humanismo cívico, essa era a lição moderna dada pela experiência e entendimento do mundo vivido por um perspectivista: os fatos mostravam, efetivamente, que a potentia de um príncipe que tinha à sua dispo­sição maiores recursos materiais e humanos resultantes da união de um conjunto de principados fragmentados e ex-cidades livres, transformadas em  um corpo político maior em extensão e força, com uma existência ‘nacional ‘, ainda que esse vocábulo ainda não estivesse disponível para essas formas de gestão do poder, poderia submeter qualquer rica e orgulhosa cidade, que fizesse profissão de fé em sua autonomia. Maqui­avel era cético quanto a encontrar no receituário do humanismo republicano  lições maiores para os tempos modernos que as lições derivadas da observação. A capacidade do príncipe em agir virtuosamente deveria ser derivada de sua ousadia e do entendi­mento do tempo no qual ele vive e esse é o tempo dos grandes estados.

Por outro  lado há formas de mostrar o quanto fala a renascença republicana no texto de Maquiavel. O primeiro ponto refere-se à característica do mundo renascentista em usar persistentemente os escritos da antiguidade como referência: Platão, Aristóteles, Cícero eram usados para se pensar sobre o mundo e assim vai Maquiavel, mais prático, ler os historiadores romanos inclusive para compor o Príncipe, pois o ‘espirito genuíno da historia’ o obrigava a conhecer para imitar. Mesmo aí, mesmo sendo obrigado a usar a sabedoria dos antigos, ele se permitia dispensar de saída a teoria aristotélico-polibiana das seis formas de governo, introduzindo um modelo dicotômico: repúblicas ou princi­pados são conceitos que explicariam doravante as formas modernas e as antigas de go­verno[xiii]. De qualquer forma os historiadores, e não os filósofos, relatavam as coisas mais adequadas ao gosto e propósitos de Maquiavel por meio de um passeio teatral que  ele mesmo relatou numa carta célebre, na qual se despojava dos trajes do povo e, ves­tido de cortesão, estudava a história[xiv]. De toda maneira,  estudar a história antiga para fundamentar uma leitura dos fatos, que se passavam do lado de fora da biblioteca,  não era exatamente semelhante a uma busca de uma metafísica invariável, subjacente ao relato dos historiadores, que poderia ser adequadamente aplicada a um contexto seme­lhante. Não, o procedimento de Maquiavel é radicalmente interpretativo e expressivo, ele usa as imagens da história para criar peças retóricas capazes de mover os intelectos e os afetos, dispondo o leitor  para a ação, ao lado dos preceitos extraídos da lição histó­rica. Dessa forma não existe cronologia, nem problemas de comparabilidade com os relatos dos fatos do presente, tudo conflui para os argumentos em favor de uma imitação pelos príncipes das lições e preceitos de comportamento que se pode extrair de Agáto­cles de Siracusa ou de Cesar Bórgia: a leitura de Maquiavel é, nesse sentido, muito mais analítica que histórica. Há, dessa forma, uma teoria da ação inscrita na imitação e que se constitui perfeitamente quando o ator escolhe, entre um catálogo amplo, os movimentos dos atores históricos que é conveniente aplicar a tal ou qual situação[xv].

O interessante é que a própria história como disciplina é, ao lado do humanismo repu­blicano, outra “vítima” da leitura de Maquiavel. Embora comentaristas de grande peso e erudição mostrem em Maquiavel as marcas indeléveis e dos tópicos retóricos das lições contidas nos livros dos antigos romanos[xvi] é preciso ver no florentino um intérprete criativo dos textos, e isso é, aliás, bastante claro.    Ele de maneira alguma  abre mão de considerar que a história, à qual estudava pelas noites a dentro, sem temer a morte e sem a aflição da pobreza que lhe impunha o exílio,  é uma construção fragmentada e apro­priada, por quem a escreve, de forma a erigir argumentos para o campo prático dos de­bates, mas não só isso, Maquiavel vai mais longe em dois aspectos. O primeiro é a lei­tura meta-teórica da história, ou seja, ler os historiadores o faz pensar sobre a veracidade dos registros e sua função como lições a serem imitadas, chegando ao ponto, inclusive de desafiar o que disseram os antigos, algo impróprio ao reconhecimento que os huma­nistas faziam dessas fontes como emanadoras de luzes que foram acesas no momento mais glorioso dos tempos de Roma. O segundo aspecto  problemático consiste em usar a ficção para escrever a história para torna-la mais imitável e moralmente adequada ao argumento. No livro II dos seus ‘Discursos[xvii] afirmou a impossibilidade de se saber o que realmente ocorreu na história, devido ao compromisso dos historiadores com os vencedores. Depois, em outro trecho, foi mais além, e desautorizou os próprios romanos que atribuíam sua grandeza à fortuna e não, como se lhe afigurava necessário defender, uma virtude capaz de submeter a fortuna, tópico também presente no Príncipe, escrito anteriormente.

O fascínio de Maquiavel pelas leituras de história o levou a aprender que essa não é feita apenas de fatos memoráveis, mas de esquecimento e do apagar contínuo da memó­ria dos vencidos ao lado do registro das vitórias. Ao refletir que a Hungria do seu tempo já se chamou Panônia, ou que a Inglaterra se chamou Bretanha para os romanos ele se depara com o próprio processo moderno de dar novos nomes aos novos fatos e entende que sem isso nem mesmo a cristandade poderia ter subsistido, afinal o paganismo era uma linguagem a ser devidamente apagada[xviii]. Uma história que padece também de forças não humanas como pestes e cataclismas completava um quadro complexo, onde a narração dos eventos é uma representação possível dos fatos que a transbordam por to­dos os lados. Da mesma forma Maquiavel “descobre” nas reflexões históricas uma Tos­cana livre, anterior à dominação romana, que teve sua glória ofuscada na antigui­dade[xix]. Aqui, em pequenos trechos, a história perde a função de “mestra da vida” com seus exemplos edificantes e ganha um aspecto de todo mais interessante, presente na observação dos restos e fragmentos que indicam haver mais história vivida que rela­tada, embora não se possa atribuir a Maquiavel nem a característica de antiquário, nem mesmo de arqueólogo, pois os traços semiapagados do tempo, ou as conclusões que extrai da simples comparabilidade dos nomes das regiões na antiguidade e o seu pre­sente, só lhe interessam por sua função retórica de afirmar um conhecimento da política que ia além do conteúdo da sabedoria dos antigos, que ele mesmo venerava. É impor­tante sublinhar é que esse  tipo de meditação é estranha aos historiadores romanos e pode-se dizer o mesmo dos gregos

 A passagem sobre Plutarco remete ao consagrado uso da díade Virù/Fortuna e permite a Maquiavel desautorizar inclusive o próprio juízo que os romanos faziam de si mes­mos, ao atribuírem sua grandeza à Fortuna, deusa que contava com mais templos que todas as outras, indicando o seu prestígio, ratificado por Plutarco[xx]. Para Maquiavel os romanos deviam sua glória, ao contrário, à sua virtude no uso das armas, pois nada se poderia esperar de divindades, cujo uso era completamente instrumental para animar o vigor das tropas. Há mais problemas nesse ponto, afinal um erudito contemporâneo ar­gumentou que a concepção de uma Fortuna que acompanha servilmente a Virtù era moeda corrente na retórica antiga (Sêneca) e mesmo em outros humanistas do renasci­mento o tópico de que se deve resistir e afrontar a Fortuna para seduzi-la também se antecipa a Maquiavel[xxi]. Assim a saborosa passagem do penúltimo capítulo do Príncipe, onde Maquiavel escreve que ‘la fortuna è donna’[xxii], e , sendo mulher é conveniente submetê-la com violência não se constitui um tópico original e antes seria um conhecido antídoto humanista à cristianização medieval do conceito, que identifi­cava a Fortuna com a providência ou com uma entidade cega, acima das forças huma­nas.

A originalidade ou, numa sugestão, a modernidade de Maquiavel para o caso se consti­tui, talvez, no uso híbrido das duas concepções, e na possiblidade de atar à fatalidade algum tipo de previsibilidade. Ele compreende que a inflexibilidade nos modos de agir, incluindo aí a disposição de ser sempre varonil e desafiador da sorte, não pode ter su­cesso duradouro, o que ratifica a crença numa roda da sorte que vai girar em certo mo­mento, solapando o caráter ousado ou excessivamente prudente do ator: fosse Cesar Bórgia, jovem impetuoso, ou Maximiliano I de Habsburgo, sempre vacilante. Mesmo que a Fortuna como fêmea preferisse  amar o primeiro e desprezar o segundo ela vai, em um momento, cansar-se dos arroubos do jovem príncipe, como de fato ocorreu quando ele apostou mais uma vez na  ousadia, acreditando que Júlio II, que o odiava, poderia ser um papa adequado à suas ambições. e estaria limitado pela honra de ter sido tornado pontífice com o apoio do duque/cardeal. Era o momento de ser prudente e a alta cartada de Cesar Bórgia, como tantas anteriores, foi-lhe funesta tão logo Júlio teve po­deres para antagoniza-se com o príncipe, dando início à sua ruina. Ao chamar a fortuna de mulher Maquiavel, a julgar por escritos posteriores sobre o tópico feminino, pensava num ser que uma vez submetido poderia ao revés causar inúmeras desgraças ao seu controlador, como satirizou em sua ‘favola’ sobre um diabo que vem à terra verificar se era verdade serem as mulheres a principal causa da frequência dos homens descerem ao inferno[xxiii].

O passo verdadeiramente moderno no trato da Fortuna é dado pela metáfora do rio cau­daloso que poderia sempre arrastar tudo quando as chuvas inesperadas o fizessem trans­bordar[xxiv]. Aqui a engenharia que constrói diques e muda o curso das águas indica uma Fortuna senão domável pelo menos mitigável em seus males. A previsão é um re­curso privilegiado do ator  e implica que os quadros do futuro podem ser antecipados dentro de um conjunto de possiblidades, assim para onde a Fortuna girar há uma res­posta que pode estar antecipadamente de posse do agente. Mais, a roda vai girar dentro de um curso, como o rio só transborda a partir do seu leito,  os infortúnios são assim antecipáveis e as surpresas apenas consequências da falta de imaginação prospectiva. Ao usar imagem do rio Maquiavel com certeza pensou no Arno, que atravessa Florença e é dado a transbordar em ciclos de tempo. Os problemas do rio Arno mereceram uma encomenda a Leonardo da Vinci que trabalhava como engenheiro e arquiteto militar, em 1502, para o mesmo Cesar Bórgia, quando Maquiavel era Secretário da República[xxv]. A transposição do Arno foi aprovada oficialmente e tinha objetivos maiores que con­trolar suas enchentes, pois iria dar a Florença canais navegáveis até o mar e também afetar a resistência de Pisa que ficaria sem água. Sobreviveram os desenhos de Leo­nardo e sabe-se inclusive que a obra começou, que se desviou dos planos de seu arqui­teto e que acabou fracassando. Trata-se, assim, de mais do que uma metáfora aparente­mente pensada apenas como escada para o clímax algo erótico[xxvi] do capítulo, pro­clamando a dominação da fêmea Fortuna pelo macho viril e que concorreria para uma tese principal de que um príncipe novo poderia, contra a própria infausta sorte da terra italiana, resgatar a liberdade. Num certo sentido essa imagem do rio domado pelos di­ques é o próprio desencantamento da Fortuna pelo trabalho e gênio  humanos. Os diques do Arno, suas implicações técnicas e a decisão pública de implementá-los, mesmo que tenham resultado em fracasso (o engenheiro que implantou o trabalho mudou os planos de Leonardo), delineiam os traços modernos, no caso, o domínio técnico da natureza, que circulavam o mundo vivido pelas camadas mais ilustradas da Itália no início do cinquecento.

 Quanto ao aspecto da criação literária no relato histórico, a forma como Maquiavel lida com o uso ficcional nos seus argumentos deve ser talvez pensado como simplesmente uma maior liberdade no uso de disposições já presentes na historiografia antiga. Se a escrita de fatos edificantes, aqueles que mereciam ser lembrados e imitados, requeria dos autores uma prosa esmerada e artificial, no sentido de por na boca dos personagens discursos ideais, como havia sido estabelecido pelo cânone de Tucídides[xxvii] e imi­tado pelos romanos, no caso do florentino há inclusive a opção pela manipulação literá­ria. Um exemplo é  sua composição da ‘Vita’ (biografia) de Castruccio Castra­cani[xxviii], personagem histórico e príncipe “exemplar”. Maquiavel, na sua exposição repleta de adaptações que chegam a alterar dados reais da biografia histórica, que pro­vavelmente ele sequer necessitava pesquisar, pretendeu, antes de mais nada, criar um tipo, que por suas ações e falas pudesse merecer ser lembrado, acontece que as falas de Castruccio são em sua ampla maioria, senão todas,  invenções literárias do autor. De qualquer forma elas guardam notável semelhança com os preceitos do Príncipe, sobretudo na flexibilidade necessária à condução de uma vida de valor.

O tópico da força imanente ao povo nas teorias  de Maquiavel se constitui numa outra faceta evidentemente moderna desse autor, que o afasta, nesse caso significativamente, das lições da história antiga centradas em indivíduos notáveis, como ele próprio sabia muito bem retratar. Maquiavel observava que os tempos modernos indicavam a impor­tância do povo das cidades na balança de poder, ainda que a única forma de falar disso era pela via indireta da história antiga, para sustentar um elogio inexistente no mundo clássico sobre a razão de se dar à plebe a guarda da liberdade[xxix]. Embora os historia­dores romanos reconhecessem o poder de fato dos tribunos da plebe, esses escritores, sempre subservientes ao mito da república, enfatizarão o senado como o baluarte da república e assim da liberdade. Nem mesmo na Grécia temos elogios ao demos[xxx] e apenas Aristóteles, que era filósofo e não consta entre os autores de referência para Ma­quiavel, reconheceu, com muito cuidado, que havia um argumento em sua época rela­tivo à possibilidade do grande número gerar algum juízo prudente, mesmo assim cabe contar Aristóteles entre os que não viam no povo muito mais que um problema a ser resolvido pela engenharia constitucional. Maquiavel, nesse sentido, é muito mais radical e faz do povo romano um ator na geração da grandeza e decadência daquela república. Cabe reiterar, ele ia a Roma para falar de um ator central  no seu tempo, dado que se é verdade que as armas são a garantia do príncipe, não é menos verdade que elas devem estar nas mãos do povo. Este deve ser a base do exército evitando-se as tropas mercená­rias[xxxi]. O reconhecimento do povo como um possível guardião da liberdade, na sua peculiar visão fora algo historicamente experimentado em Roma,  não sem efeitos fu­nestos, que ele também admite. Louvar o povo era indicador de um arranjo também possível para o tempo presente e antitético com a solução de Veneza, cujo controle era aristocrático. De qualquer forma é Maquiavel quem vê na plebe romana alguma virtude política e o fato moderno é entender uma história operante por meio de um ator cole­tivo. Não é o caso de emprestar a Maquiavel conceitos que ele não formulou, porém de sublinhar o quanto ele se via obrigado a construir um espaço para o popolo, por enten­der o seu peso na manutenção das repúblicas e principado. Se a violência bem usada pode conquistar e manter por um certo tempo um Estado, teoria que fez a fama e a des­graça de Maquiavel, o mesmo florentino não veria futuro em uma república ou princi­pado que mantivesse constantemente o povo submetido contra sua vontade.

 O povo não é ainda no renascimento o agente que emerge positivamente como o insti­tuidor dos príncipes, essa formulação iria ainda muito maturar e somente no século XVII, em plena revolução moderna, o poder soberano seria pensado como derivado por instituição de indivíduos livres, que geram um corpo coletivo na forma de uma as­sembleia[xxxii]. Mesmo assim, no séc. XVII, essa concepção é restrita a certo número de pensadores e não uma ideia aceita como base da vida política legítima, o que só será possível após a revolução francesa, ao final do séc. XVIII. Afastando então qualquer tentativa de ligar Maquiavel a ideias que ele sequer poderia ter, é bem o caso de discutir como ele estendeu ao povo uma função política que não era própria do arsenal teórico humanista, mas que um habitante realista de uma cidade-estado poderia conceber, mesmo que seus instrumentos de pensador o levassem sempre ao recurso da  historia romana. Há evidentemente que se reconhecer que se o povo das cidades era tão impres­sionante para a cultura urbana do renascimento, o mesmo não se pode dizer dos novos Estados europeus que volta e meia ocupavam a Itália, pois estes se garantiam na força de exércitos profissionalizados, pagos pelos abundantes recursos que afluíam à Europa já no Sec. XVI e eram centralizados pelos príncipes. Essa ressalva não diminui a agu­deza da observação de contar o popolo como uma potência específica, ainda que sua visada, as revoltas urbanas que se espalhavam por países inteiros só se tornassem um terror e um fundamento da política séculos mais tarde. Num certo sentido cabe pensar as cidades italianas do renascimento, como seriam as cidades holandesas no Sec. XVII, que geram nomes como Espinosa[xxxiii], como lugares de experiências muito a frente da realidade europeia, em que pese o seu destino de serem submetidas por “bárbaros“ muito mais poderosos.

As aparições do tópico ‘povo’ no Príncipe são quase sempre para sublinhar que sem ele um príncipe não sobreviverá no poder, ao passo que com os aristocratas ele sempre cor­rerá perigo. Nos ‘Discursos’, sua defesa da luta de classes na Roma antiga, identifi­cando-a com a causa das leis que protegeram a liberdade, é um componente constante do seu argumento novo: ter o popolo como aliado é  incontornável caso o príncipe queira se apoiar em armas próprias e não depender de mercenários e/ou tropas auxilia­res ‘bárbaras’ que  são um perigo certo após a vitória. O povo entra na equação de um exército fiel, centrado numa  boa infantaria. Esse seria o único meio de sustentar um exército “patriótico” em torno de um príncipe novo. O elogio à infantaria com certo desdém para a arma aristocrática, a cavalaria, tecido na Arte da Guerra[xxxiv] indica uma faceta recorrente dessa ideia, que tem nos Discorsi uma formulação ainda mais ousada e absolutamente chocante para o horror que os humanistas cívicos tinham das sedições entre as classes que compunham a cidade. Na verdade Maquiavel diz cla­ramente que os conflitos de classe não são funestos, mas, ao contrário, benéficos, pois são as fontes das leis que protegem a liberdade[xxxv]. Numa operação retórica incrível, ele minimiza o abundante sangue das lutas de classe em Roma, a oposição entre plebe e patrícios, identificando-as com a razão para a glória do Estado. Seu horizonte foi o de imaginar inclusive um modelo constitucional, no qual a institucionalização dos conflitos de classes, como ocorreu em Roma com a adoção do tribunato, que significava na prá­tica dar o direito aos representantes da plebe de acusarem os membros da aristocracia de traição ao Estado,  criava uma disposição para a busca da grandeza. Por oposição, se for impedido ao povo cuidar da guarda da liberdade, deixando o controle das leis sempre nas mãos da aristocracia o resultado será muito menos conflituoso, porém muito menos eloquente tendendo a uma estabilidade sem expansão. Os dois exemplos históricos dessa polaridade são a Roma antiga e, nos seus dias, a sereníssima República de Ve­neza, rica e politicamente encapsulada por suas oligarquias dominantes. Maquiavel en­tendia essa polaridade como uma opção dos fundadores da República: quem quisesse a glória que imitasse Roma e quem quisesse a ordem que imitasse Veneza. É improvável  que ele imaginasse a criação de uma Itália sem a energia de um povo em armas, dado seu desprezo pelo comportamento rapace dos aristocratas, sempre pontos a colocarem seu egoísmo na frente da causa pública.

O tópico do conflito sofreu grande variação no pensamento de Maquiavel se comparado o tratamento elogioso ao conflito dado nos Discorsi e o horror às sedições que aparece na sua última grande obra as ‘Histórias Florentinas[xxxvi]’, texto no qual Maquiavel assume um olhar mais tradicional, típico do humanismo cívico, condenando os conflitos como deletérios à ordem. Essa mudança pode ser em função da liberdade que o autor tinha ao escrever os ‘Discursos’, fruto de suas meditações como um intelectual exilado na própria cidade e que não precisava contentar qualquer patronato, mas apenas provo­car o debate nos círculos intelectuais, que continuaram a acontecer em sua vida nos jar­dins de Cosimo Rucellai. Em contraposição as ‘Istorie Fiorentine’ foram encomendadas pelos Medici e, por isso, deveriam contentar a grande família aristocrática de Florença. Essa guinada pode ter aí uma explicação plausível, porém é interessante notar que Ma­quiavel evitou nas ‘Histórias’ condenar o modelo de antagonismo de classes que havia criado nos Discorsi, preferindo criticar continuamente as inúmeras guerras de facções entre os aristocratas e as facções entre o próprio povo[xxxvii]. A discórdia civil que surge como preocupante não é aquela gerada pela luta de classes, pela oposição básica entre o popolo e os grandi da cidade, porém são as dissenções internas das classes que colocam partidos, sobretudo aristocráticos, uns contra os outros. De qualquer forma esse tratamento do conflito político é bem diferente nas duas obras, embora não seja de todo antitético. Embora, mais uma vez, não seja possível encontrar Aristóteles como uma referência forte para Maquiavel é adequado lembrar que fazia parte do acervo do pen­samento político da antiguidade essa mesma leitura dual do conflito: quando se opõe o demos à aristocracia há uma resultante chamada politeia, o ‘governo constitucional’, celebrado como uma forma virtuosa de ordem[xxxviii]. O próprio Aristóteles, no fa­moso livro V da Política, onde pelo realismo da sua visada ele foi chamado de “maqui­avélico”, descreve as sedições intra-classes, ou seja, a multiplicação de partidos e fac­ções dentro das classes, como uma das fontes principais da corrosão da ordem constitu­cional da polis. Em Maquiavel há uma clara isomorfia dessa análise e, pode-se argu­mentar, que se ela deriva de Aristóteles é possível que tenha sido simplesmente incorpo­rada ao acervo da teoria política do mundo clássico, redescoberta pelo Renascimento. Independentemente do grau de originalidade de Maquiavel em encontrar na oposição de classes uma fonte de força e no divisionismo interno um caminho para a crise das repú­blicas o fato é que ele descreve essas possibilidades sem se referir a qualquer autor, e também é fato que essas passagens não deixaram de provocar a estupefação de seus contemporâneos, como Guicciardini[xxxix], e a admiração de analistas séculos depois.

Há muito mais de Maquiavel sobre o povo, uma vez que ele empresta a esse ser coletivo a própria possibilidade de ser portador de virtù, o que normalmente deveria ser um atri­buto exclusivo do ator individual. Conceber o povo como um agente coletivo virtuoso é uma novidade moderna de Maquiavel e esse traço não é residual em seu projeto, articu­lando-se, ao contrário, com a necessidade de integrar a potencia de um povo armado ao comando de um príncipe. Essa é única forma de produzir uma forma política que tivesse condições de conduzir a política ao estágio de soberania, que no seu vocabulário chama-se liberdade. A ideia de liberdade que Maquiavel experimentava, conquanto fosse colo­rida pelas tintas do modelo antigo, de autonomia e autogoverno, algo que somente por ilusão as cidades italianas viviam no nascente século XVI, posto que sempre ocupadas pelas potências estrangeiras, é suficientemente forte para trabalhar a o argumento de que ser livre é uma condição de sobrevivência da Itália. A forma de se chegar a isso impõe pensar uma virtude desenvolvida no corpo dos cidadãos o que é uma solução própria do imaginário republicano, mas tempos modernos exigem soluções modernas, outro ele­mento se faz necessário, aí sim antitético ao que se chamava república, pelo menos na cultura que formava os humanistas: trata-se do elogio a o príncipe como salvador da república.

Repúblicas começam com a expulsão dos reis e o estabelecimento de formas coletivas de debate sobre a direção da cidade. Esse é um mito que Roma estabeleceu sobre si  e que levava à identificação do governo de um só com a tirania. Por sua vez a tirania era a perda da liberdade, a usurpação do bem coletivo por um indivíduo incapaz de pensar na cidade acima dos seus interesses, na verdade era um ato de violência completamente avesso à virtude. Essa crença era forte em Roma o suficiente para Júlio Cesar procla­mar-se “salvador da república,” evitando a caracterização de tirano. Mas essa acusação foi suficiente para mobilizar contra ele a conspiração do senado que levou à sua morte. Pensar-se como antítese da tirania era um tópico central no orgulho da república, que nem mesmo um monge como Savonarola quis desafiar defendendo a república como a forma mais adequada a Florença. Maquiavel, ao mergulhar sincronicamente na história romana e na história que se passava no seu tempo como movimentos mais que comple­mentares, mutuamente esclarecedores, teve de criar, além de um povo virtuoso, um príncipe salvador da república, o que poder-se-ia taxar, aparentemente, de um oximoro, um paradoxo retórico, feito a partir da linguagem republicana. Como po­deria um só homem refundar uma república salvando sua liberdade e ainda fazê-lo con­duzindo um exército de cidadãos virtuosos? Há uma notável articulação entre o capítulo final do Príncipe, quando a exortação pelo príncipe novo que deveria ser o salva­dor/unificador da Itália é formulada como uma peroração, que faz o tempo moderno justificar o recurso ao paradoxo, com o capítulo 9 dos Discursos, quando Maquiavel escreve que é preciso estar só para se reformar uma republica de modo inteiramente novo.

O aparente paradoxo começa com a lembrança de que Maquiavel era um republicano e que usa essa linguagem para reclamar para a Itália a unificação por um príncipe, que forjasse esse  novo país,  retomando a sua  liberdade, alicerçada na virtude dos seus ci­dadãos, transformados numa potencia coletiva devidamente armada e bem dirigida. O paradoxo se completaria com a constatação de que principados sem boas armas e sem o apoio do povo não sobrevivem, mesmo que os tempos fossem dos príncipes e não das repúblicas. A solução para esse paradoxo é semelhante à junção de duas formas degene­radas de governo, assim como na teoria politica grega oligarquias e democracias são mescladas para se obter o equilíbrio no governo constitucional. Maquiavel recusava a teoria das seis formas de governos pela incapacidade de qualquer delas durar, porém ao substituir a teoria polibiana pela bipartição entre principados e repúblicas ele não recu­sava o cerne da teoria, a saber, que as formas puras, fossem governos coletivos republi­canos, ou fossem formas centradas em um só príncipe, seriam sempre instáveis,  recla­mando a forma mista de governo como uma solução que superasse tal instabilidade. Se os Discorsi é uma obra  que se ocupa do estudo das repúblicas, ela é ainda mais dedi­cada a pensar como superar os problemas intrínsecos da forma republicana. As inúme­ras considerações sobre a ação dos príncipes presentes no texto dos ‘Discursos’, com destaque para a fórmula do reformador individual da república, são muito mais que uma indisciplina temática de Maquiavel que aparentemente mistura assuntos sem maior ri­gor. A mirada para os principados presente nos Discorsi é um exercício de fusão das duas formas puras de governo, com o fim de criar, no melhor estilo antigo para respon­der ao fato moderno, uma forma de organização mista. Dessa forma os temas republica­nos da liberdade e da virtude dos cidadãos que eclodem dentro do Príncipe e são chamamentos para a missão republicana inscrita  no projeto de uma Itália livre.

É comum pensar certos autores como culminações de uma trajetória, que esgotam as possibilidades de um tempo e de uma linguagem. O renascimento vive com Maquiavel essa característica, afinal, após sua partida, a convicção teórica e estética da reflexão política foi, por força do tempo, abandonando a historia de Roma e se enfrentando com questões mais “irracionais” relativas à fundamentação do poder dos príncipes cristãos, que se tornaram a força que dilacerou a continuidade do século XVI, profundamente impactado pela emergência das guerras religiosas em torno da reforma da cristandade iniciada por Lutero, e pela republica teocrática de Calvino, que em nada precisava da historia romana. O barroco contrarrreformista rapidamente se instalou com suas torções na perspectiva  e a recepção negativa de Maquiavel se espalhou dando inicio à constru­ção da imagem do pensador do mal, ou pelo menos do mal cristão, enquanto os prínci­pes eram obrigados a apenas a parecerem piedosos, a dificilmente manterem suas pala­vras dadas e, é claro, a praticarem a violência “bem usada” para permanecerem no po­der. Maquiavel é, dessa forma, o auge e o fim do pensamento político do renascimento e sua trajetória  moderna também foi dual, pois o tempo seguiu uma espiral   que consa­grou o florentino negativamente, mas sem nunca deixar de ler O Príncipe, até que seu gênio foi plenamente reestabelecido pelo séc. XX, aparecendo hoje como um pensador “clássico”, objeto de investigações e revisitações sem fim. As razões dessa frequência, no que toca à teoria política,  devem ser vistas na necessidade que os fluxos da moder­nidade têm de formulações que constituem seu cerne desde o renascimento e foram os instrumentos de Maquiavel: o olhar analítico para os fatos, a certeza de que esses são formados pelas ações humanas em interação com as forças que elas mesmas desenca­deiam, normalmente além do controle dos atores, que apenas são virtuosos se não se recusarem a continuar a tarefa de conformar a realidade.

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[i] Machiavelli, Il Principe, 2011, p. 6.

[ii] “(…) assim como aqueles que desenham a paisagem se colocam nas baixadas para considerar a natureza dos montes e das altitudes e, para observar aquelas, se situam em posição elevada sobre os montes, também, para bem conhecer o caráter do povo é pre­ciso ser príncipe e, para bem entender o do príncipe, é preciso ser do povo.” Maquiavel, O Príncipe, 1983, p. 4.

[iii] Weber, Conceitos sociológicos fundamentais, in: Economia e Sociedade, p. 4. A frase de Weber refere-se ao problema de aplicar a teoria da ação à história, uma vez que o analista não tem o recurso ao sentido subjetivo que o ator tinha em mente para dar razões ao seu ato. Desta forma, o analista deve imaginar sentidos plausíveis para a ação e, portanto, trata-se de ver o ator em perspectiva, já que não se pode habitar a sua sub­jetividade.

[iv] Moderno, como algo “existindo agora” entra para o vocabulário corrente no francês e do italiano  a partir do século XV (no renascimento, então) e remonta ao gramático bizantino Prisciano e também aparece no romano tardio Cassiodoro. Essasão, aparente­mente, as únicas fontes etimológicas conhecidas desse termo. A propósito: http://www.etymonline.com/index.php?search=modern.

[v] A teoria de que o renascimento tem como característica definir uma nova forma de subjetividade nos indivíduos, que passariam a lidar com um self mutável, tanto na dire­ção vertical, marcada pela escolha entre a virtude e a vida mundana, quanto na direção horizontal, permitindo ao indivíduo ter mais de uma profissão e mais de uma identidade é uma conquista da literatura daquela época, conforme Greene, The Flexibility of the Self in Renaissence Literature, in: The disciplines of Critcism. Essays in Literary, Theo­ry, Interpretation and History.

[vi] Maquiavel, O Príncipe, cap XXVI.

[vii] O Maquiavel diplomata está bem desenhado na excelente biografia que lhe fez Roberto Ridolfi, Biografia de Nicolau Maquiavel, cap. IV a VIII, além de X e XI. Quentin Skinner também deixa clara a influencia da atividade diplomática na mudança de entendimento que o Secretário teve da experiência republicana, no seu precioso e sintético ‘Maquiavel’, pp. 14-39.

[viii] Skinner, As fundações do pensamento político moderno, pp.25-45. Esse é o grande livro de referência sobre o período e cabe indicar também, para a noção de liberdade no humanismo cívico em Maquiavel o livro de Bignotto, Maquiavel Republi­cano, cap. I e II.

[ix] Sobre o tempo circular no pensamento renascentista e em Maquiavel é recomendável o ensaio de Newton Bignotto, O circulo e a Linha, in: Tempo e História.

[x] Essa imagem fáustica da modernidade, um processo que libera forças que moem a tradição e, em seguida, começam a destruir a si mesmas, recriando-se em espaços de tempo cada vez mais curtos, deve-se a Marshall Bermann, Tudo que é sólido desmancha no ar, 2007.

[xi] A tese de que o moderno Estado assenta-se no monopólio da violência instituído por um príncipe, contra a aristocracia, usando o suporte dos letrados humanistas está em Weber, A política como vocação, 1982.

[xii] Hobbes, pouco mais de um século depois de Maquiavel, caracterizou as relações internacionais como um permanente estado de guerra, próprio da natureza, uma vez que faltava aos Estados um leviatã  próprio, que fosse o seu juiz e obrigasse a todos pelo medo da punição. Hobbes, leviatã, 1979, cap. XIII p. 77.

[xiii] Essa observação é de Bobbio, Teoria das formas de governo, p 73-74 e fica melhor ilustrada pelo próprio Maquiavel: ‘Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio’, Livro I cap.II, pp. 21-27.

[xiv] Maquiavel, Carta a Francesco Vettori, in O Príncipe pp. 149-153. A passagem da carta que assinala exatamente a flexibilidade do self maquiaveliano, passando da iden­tidade de homem do povo à de cortesão da história, é a seguinte:

“Chegada a noite, retorno para casa e entro no meu escritório; na porta, dispo a roupa quotidiana, cheia de barro e lodo, visto roupas dignas de rei e da corte e, vestido assim condignamente, penetro nas antigas cortes dos homens do passado onde, por eles rece­bido amavelmente, nutro-me daquele alimento que é unicamente meu, para o qual eu nasci; não me envergonho ao falar com eles e perguntar-lhes das razões de suas ações. Eles por sua humanidade, me respondem, e eu não sinto durante quatro horas qualquer tédio, esqueço todas as aflições, não temo a pobreza, não me amedronta a morte: eu me integro inteiramente neles. E, porque Dante disse não haver ciência sem que seja retido o que foi apreendido, eu anotei aquilo de que, por sua conversação, fiz capital, e compus um opúsculo De Principatibus, onde me aprofundo o quanto posso nas cogitações deste assunto, discutindo o que é principado, de que espécies são, como são adquiridos, como se mantêm, porque são perdidos.”

[xv] Maquiavel, Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio, Livro I, Introd., p. 18. In verbis:

“(…) O resultado é que os que se dedicam a ler a história ficam limitados à satisfação de ver desfilar os acontecimentos sem procurar imitá-los, julgando tal imitação mais do que difícil, impossível. Como se o sol, o céu, os homens e os elementos não fossem os mesmos de outrora; como se sua ordem, seu rumo e seu poder tivessem sido alterados”,

[xvi] Esse é o caso de Skinner, no seu ‘Maquiavel’, onde o florentino sempre é carac­terizado com um aplicador de retóricas que já existiam nos autores romanos, o ponto aqui é afirmar que Maquiavel também foi obrigado a inovar perante essa tradição, mesmo que operasse a partir dela.

[xvii] A primeira tradução brasileira dos Discorsi, aqui usada, preferiu chamar o livro de  ‘Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio’. Uma vez que a língua portuguesa permite perfeitamente falar em ‘Discursos’, assim será grafado, a não ser nas citações bibliográficas.

[xviii]Maquiavel, Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio ,Livro II, pp 215-217.

[xix]Maquiavel, Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio, Livro II, pp 199-201.

[xx] Maquiavel, Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio, Livro II, cap I, pp 193-195. Em seus termos:

“Muitos historiadores, entre eles Plutarco — escritor de grande peso —, susten­tam que a expansão do império romano se deveu mais à sorte do que à virtude. En­tre os seus argumentos, Plutarco cita a confissão dos próprios romanos, que atri­buíam suas vitórias a Fortuna, deusa que tinha mais templos do que qualquer outra divindade. Tito Lívio parece também pensar assim, pois é raro, ao citar uma figura importante, que não men­cione, ao lado do seu valor, sua sorte”.

“Este, contudo, não é meu pensamento; e não creio que uma opinião diversa possa ser bem sustentada. Se nunca existiu outra república que tivesse feito con­quistas iguais às de Roma, isto se deve a que nenhuma outra teve, desde o início, instituições tão apro­priadas a este fim. Foi à coragem dos seus soldados que Roma deveu as conquistas; mas foi à sua sabedoria, à sua conduta e ao caráter especial que lhe imprimiu seu fundador que deveu a conservação dessas conquistas, como demonstraremos amplamente em vários dos capítulos seguintes.”

[xxi] Skinner, Maquiavel, pp. 47-53.

[xxii] Machiavelli, Il Principe, op. cit. p. 53.

[xxiii] Maquiavel, Belfagor, o Arquidiabo, 1980. O diabo se transforma em um homem comum e tendo um grande dote escolhe Florença para viver de renda e, apaixonando-se por uma bela florentina, vai progressivamente se arruinando ao satisfazer-lhe os capri­chos. Nos Discorsi (livro III, cap. XXVI) intitulado ‘Como as mulheres podem arruinar um Estado’ ele verifica que mais de uma vez o ultraje às mulheres geraram inúmeras guerras e derrocadas de monarcas. Assim sendo a fortuna mulher a confiança que se poderia ter nela era bem problemática.

[xxiv] Maquiavel, O Príncipe, p. 140.

[xxv] O encontro de Maquiavel e Leonardo ocorreu em Ímola e deve desdobramentos e está retratado no livro de Roger Masters, Da Vinci e Maquiavel, um sonho renas­centista, 1999.

[xxvi] Skinner, Maquiavel, pp. 50-51, considera que esse aspecto erótico era um acento específico de Maquiavel descrevendo um “prazer perverso” da fortuna em ser brutal­mente submetida. O problema como se sabe é que as mulheres de Maquiavel uma vez submetidas tornam-se tiranas.

[xxvii] Tucídides, História da guerra do Peloponeso, 1987. Os discursos que Tucídides põe na boca de suas personagens são peças de retórica que recriam alegoricamente os diferentes pontos de vista que fazem a história. Esse modelo, imitado pelos romanos, esta’ presente no Maquiavel historiador de Florença e em outras invenções suas, afinal, uma vez que se tratava também de um poeta e dramaturgo não era exatamente difícil para ele criar falas para personagens.

[xxviii] Maquiavel, A vida de Castruccio Castracani, 1980.

[xxix] Maquiavel, Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio, Livro I, cap. V, pp. 33-35.

In verbis:

“Aqueles que agiram com maior tino ao fundar um Estado incluíram entre suas institui­ções essenciais a salvaguarda da liberdade; e os cidadãos puderam viver em liberdade um tempo mais ou menos longo, segundo tal salvaguarda tenha sido mais ou menos bem formulada. Como em todos os Estados existem aristocratas e ple­beus, pode-se bem perguntar em que mãos a liberdade estaria melhor savalguarda”-

“Em outros tempos, os lacedemônios a confiaram aos nobres, como o fazem em nossos dias os venezianos: já em Roma, ela estava nas mãos do povo. É necessário, portanto, examinar qual dessas repúblicas fez melhor escolha. Se considerássemos os seus mo­tivos, teríamos muito a dizer em favor de cada lado; examinando os re­sultados, contudo, dar-se-á a preferência à nobreza, porque em Esparta e em Veneza a liberdade teve vida mais longa do que em Roma”.

“No entanto, para chegar aos motivos, e tomando os romanos como exemplo direi que se deve sempre confiar um depósito a quem tem por ele menos avidez. De fato, se con­siderarmos o objetivo da aristocracia e do povo, perceberemos na pri­meira a sede do domínio; no segundo, o desejo de não ser degradado – portanto uma vontade mais firme de viver em liberdade, porque o povo pode bem menos do que os poderosos ter es­perança de usurpar a autoridade. Assim, se os plebeus têm o encargo de zelar pela sal­vaguarda da liberdade, é razoável esperar que o cumpram com menos avareza, e que, não podendo apropriar-se do poder, não permitam que outros o façam”.

[xxx] A observação de que inexiste um grande texto de elogio à democracia no mundo antigo é de Moses Finley, A democracia antiga e moderna, 1988. Segundo o historiador norte-americano quase tudo que sabemos da democracia antiga sobreviveu nos textos dos críticos da democracia.

[xxxi] Esse tema é central e articula o cap. XII e XIII do Príncipe com a posterior redação da Arte da Guerra.

[xxxii] Tal é a fórmula básica do contratualismo, a partir de Hobbes, Leviatã, 1979, o poder soberano passa a ser instituído, ou seja, a sujeição à espada do Estado é um ato voluntário dos que vão obedecer. Maquiavel não está ainda, com certeza, em um regis­tro como o de Hobbes mas já existe em Maquiavel a noção de uma missão do príncipe em proteger o povo, até para evitar sedições e há, em contrapartida, o entendimento de que o povo pode resistir a obedecer quem o hostiliza.

[xxxiii] A ideia de um povo que formando um corpo multiplica sua força (potentia) e torna-se base de uma virtuosa republica democrática é uma conclusão radical do Trata­do Teológico-Político, 2003, de Bento de Espinosa. É uma ideia radical para o séc.XVII e acima das possibilidades históricas e teóricas de Maquiavel, mas em ambos a força do povo é a garantia de qualquer ordem livre possível.

[xxxiv] Maquiavel, A arte da guerra, 1980. Livros III a VI.

[xxxv] Maquiavel Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio, Livro I, cap. IV, pp. 31-32.

In verbis:

“Não quero silenciar sobre as desordens ocorridas em Roma, entre a morte dos Tarquí­nios e o estabelecimento dos tribunos. Mas não aceitarei as afirmativas dos que acham que aquela foi uma república tumultuada e desordenada, inferior a to­dos os outros gover­nos da mesma espécie a não ser pela boa sorte que teve, e pelas virtudes militares que lhe compensaram os defeitos. Não vou negar que a sorte e a disciplina tenham con­tribuído para o poder de Roma; mas não se pode esquecer que uma excelente disciplina é a consequência necessária de leis apropriadas, e que em toda parte onde estas reinam, a sorte, por sua vez, não tarda a brilhar”.

“Examinemos, porém, as outras particularidades de Roma. Os que criticam as contínuas dissensões entre os aristocratas e o povo parecem desaprovar justamente as causas que asseguraram fosse conservada a liberdade de Roma, prestando mais atenção aos gritos e rumores provocados por tais dissensões do que aos seus efeitos salutares. Não querem perceber que há em todos os governos duas fontes de oposi­ção: os interesses do povo e os da classe aristocrática. Todas as leis para proteger a liberdade nascem da sua desunião, como prova o que aconteceu em Roma, onde, durante os trezentos anos e mais que transcorreram entre os Tarquínios e os Gracos, as desordens havidas produzi­ram poucos exilados, e mais raramente ainda fizeram correr o sangue”.

[xxxvi] A passagem das Histórias Florentinas,1994,p.223 é :

“Costumam as províncias, as mais das vezes, nas mudanças a que são submetidas, da ordem vir à desordem, e novamente, depois, passar da desordem à ordem: porque não estando na natureza das coisas deste mundo o deter-se, quando chegam à sua máxima perfeição, não mais podendo-se elevar, convém que precipitem; e de igual maneira, uma vez caídas pelas desordens chegadas à máxima baixeza, necessariamente não podendo mais cair convém que se elevem: assim, sempre do bem se cai no mal e do mal eleva-se ao bem, porque a virtude gera tranqüilidade, a tranqüilidade o ócio, o ócio, desordem, ruína; e igualmente, da ruína nasce a ordem, da ordem a virtude, e desta, a glória e a prosperidade”.

[xxxvii] Esse ponto é explorado num estudo específico por Gilela Bock, Civil discord in Machiavelli`s Istorie Fiorentine, in Machiavelli and Republicanism, 1990.

[xxxviii] Aristóteles, Política, 1982, 1295 b, p. 835. Uma importante ressalva: em Aris­tóteles essa oposição de classes deve ser mitigada pela existência de uma classe média que funcionaria como um amortecedor do conflito e seria a base social da constituição mista. Esse tipo de engenharia social é totalmente estranha a Maquiavel e o paralelo se quem em ambos é a oposição dos contrários que gera harmonia da lei.

[xxxix] Skinner, Maquiavel, p.103.

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