Crítica sobre a exposição Força Vertical na Casa de Cultura Mario Quintana em Porto Alegre.
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Pois antes, te busquei. E andei distâncias enormes. Mas sua voz ainda assim. Mesmo que doce. Sumia. Sumiu.
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É como se muito tempo depois, as portas, duas, bem grandes, precisassem ser abertas, escancaradas, por uma nova fumaça, vinda do lado de dentro, produzida. Antes, uma louca confiança, na magreza excessiva, nos tempos de jejum. Na fortaleza, oras, diante dos males, de tudo. Donde, alguma coisa se quebra. Uma crase errada, trocada, aguda, um abandono. A consciência de que se pode um pouco. Um sofá, muitos telefonemas, as pernas cruzadas e a espera pelo afeto. Que chega! São tão tolos os anti-exclamativos.
Lá, um horizonte tão vasto. Os coloridos oscilantes. O perdimento com as pedras. Noutras, paredes repletas de coisas. Marulhos? Não; máquinas de costura. O sono perdido, o apetite perdido, sendo recomposto pela mesma comida, esquentada repetidas vezes em sua delícia. Uma tarde inteira. Todas as abóboras de um mundo de mesma cor, e doce, e doce, ainda que sob o espanto do queijo não pedido.
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S’eu me reconciliasse com tudo? Para a vida? O que sobraria? Tudo?
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Era como se aquele rapaz: olhando a árvore: fosse nós dois. Isso mesmo. Aquela grande e negra, no traço, mas verdejante sendo vista. Um pouco antes, bem pouco, dera-me conta do que era, certa calma, uma moeda para uma senhorita sentada, para que não se me acabe nos olhos. Restando-me apenas um hora, para caminhar bem rápido pela passagem.
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Mas é assim. É preciso que ela reste quebrada para existir. Se dança, o corpo é dado ao anti-anatômico. O mesmo para a imagem. Ela existe na vertical que interrompe o horizonte. Existe, no sentido de que aparece. Se pudéssemos pensar no gravoso, diríamos um pouco como os gregos, que o cenho das coisas pesa, na imagem, a gravidade não é atmosférica, mas abissal, ela será duramente atraída para o estado de linha, quando não de ponto, e por isso mesmo que é difícil entender a sua vitalidade, para queimar, e fazer movimento, não faz distinção entre o organismo e a rocha, por vezes, apenas cascalhos e novelos e ovelhas de pelos e cinza cabem na sua fome; no que a imagem se move é difícil dizer se o faz por angústia ou por desejo, talvez a primeira seja o nome do segundo catalisado. Mas é certo que esses momentos brilham, seja no cisnemfolha, seja […]
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S’eu me reconciliasse em nada? Para o vento? O que performara? Sara?
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Uma última nota de apresentação desta primeira individual da Diane Sbardelotto deveria concernir ao salutar privilégio da feminilidade em seu trabalho. Ao mesmo tempo em que expõe a fragilidade pelo perdimento das roupas, pela quebradura do corpo, na analogia com formas, mas também na dramática remissão ao significado de uma roupa perdida, de uma jovem; guarda para si o estoque de antigas virtudes, transfiguradas em operadores conceituais. Se a mãe ou avó de Sbardelotto, porventura, teve os olhos costurados pelo mundo que a cerzeu, ela, diferentemente, com eles, […]
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De ti, eu guardaria um mudo.
Cesar Kiraly ensina Estética e Teoria Política na UFF.